De Fazenda Rio Grande para o mundo

 De Fazenda Rio Grande para o mundo
Spread the love

A história de um projeto social que há duas décadas vem transformando vidas e fazendo a diferença onde quer que chegue

 

Por: Ale Belini

Em 1994, nascia em Fazenda Rio Grande um sonho. O CADI (Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral) é um velho conhecido do povo fazendense, por se tratar de uma das primeiras organizações sociais do município. Maurício Cunha, fundador, relata que tudo começou através de um grande desejo de ajudar o próximo e esse ponto de partida foi suficiente para plantar uma semente que daria bons frutos.

Em duas décadas de atuação, o CADI foi longe: transformou-se em uma coalização de 11 organizações de referência em ações transformadoras. O que teve início em Fazenda Rio Grande expandiu-se e hoje o trabalho alcança 8 estados brasileiros, e já rompe barreiras internacionais. Maurício Cunha conta um pouco mais dessa história:

O Repórter – Maurício, por que o CADI foi fundado? Como nasceu essa ideia?

 Maurício Cunha – O CADI nasceu em resposta a uma preocupação com as comunidades em situação de vulnerabilidade social, em especial para dar oportunidades e uma vida plena para crianças e adolescentes, ajudando-os a alcançar o seu pleno potencial. Em Fazenda Rio Grande, após um breve diagnóstico comunitário, o trabalho foi iniciado com uma escolinha de futebol e atividades de recreação orientada para crianças. No coração, apenas a inquietação e o inconformismo com a pobreza e a injustiça, e um enorme desejo de ajudar, empreender, transformar sonhos em realidades, restaurar a dignidade e as esperanças perdidas das pessoas.

O Repórter – Fazenda Rio Grande foi emancipada politicamente em 1990. Quatro anos depois, o CADI foi fundado no município. Por que uma cidade tão jovem, cheia de desafios, foi escolhida para iniciar esse trabalho social?

 Maurício Cunha – Nós queríamos iniciar o trabalho em um contexto de vulnerabilidade social, mas, ao mesmo tempo, com uma comunidade essencialmente jovem, que tivesse esperanças no futuro. Fazenda Rio Grande representa exatamente isso. No início da década de 1990, a cidade crescia vertiginosamente, recebendo os migrantes do interior que vinham para a região metropolitana em busca de um futuro melhor. As pessoas estavam e continuam abertas à mudança, à vontade de melhorar, crescer e alcançar uma vida melhor. O CADI, como uma organização de desenvolvimento, teria muito a contribuir neste processo. O desafio do CADI era e continua sendo o desafio da própria jovem cidade.

O Repórter – Falando nisso, quais foram os desafios que o CADI enfrentou na época e quais são os desafios atuais?

 Maurício Cunha – Os desafios sempre foram em dois âmbitos. O primeiro deles, relacionado ao cerne da nossa causa, diz respeito ao enfrentamento dos problemas que afligem nossas crianças e adolescentes beneficiários dos projetos: a violência, o abandono, as drogas, a desagregação familiar, a falta de oportunidades. Nosso trabalho é oferecer e apoiar soluções para estas problemáticas. Em um segundo plano, temos o enorme desafio da sustentabilidade organizacional. O CADI está sempre em busca de parceiros, pessoas físicas ou jurídicas, que se unam conosco na causa da transformação social, ajudando a financiar os projetos, patrocinando as nossas iniciativas transformadoras e apadrinhando as nossas crianças.

O Repórter – Hoje, como você se sente ao fazer um comparativo entre o momento em que o projeto começou e a conjuntura atual, mais de duas décadas depois? Muita coisa mudou?

 Maurício Cunha – Em 20 anos de trabalho, foram abertas frentes de trabalho nas áreas de educação, saúde, esporte, lazer, arte/cultura, profissionalização, inclusão produtiva, empreendedorismo, defesa de direitos e formação cidadã. Como resultado das ações de mobilização da sociedade e formação de lideranças, o CADI transformou-se em um “movimento social” e novas unidades de serviço foram implantadas: Ji-Paraná (RO), Palhoça (SC), Aratuba (CE), Camaçari (BA), Campo Largo (PR), Sooretama (ES), Gaibu (PE), Valença (BA) e Rio de Janeiro (RJ). Muitas outras organizações e projetos sociais nasceram ou foram inspirados pelo CADI. Graças ao apoio e engajamento de muitas pessoas e parceiros que se comprometeram com a causa, aquele pequeno grupo de recreação para crianças da Fazenda Rio Grande se transformou em quase 350.000 beneficiários. Além disso, o CADI tem prestado assessoria e apoiado grupos e organizações cristãs em diversos países, entre eles: Marrocos, Senegal, Bolívia, Burkina-Faso, Angola, Moçambique e Madagascar.

Em 2012, nasceu o CADI Brasil, organização de assessoria e governança institucional que presta apoio às unidades do CADI e parceiros em todo o país, nas diversas áreas necessárias para uma intervenção social transformadora e de qualidade: gestão, mobilização de recursos, comunicação, gestão do conhecimento, elaboração de projetos e qualidade técnica. Hoje, somos uma coalizão de 11 organizações, atuando de forma sistemática e permanente em 8 estados brasileiros, e temos assento no Conselho Nacional de Assistência Social, ou seja, atuamos na formulação e no monitoramento da política nacional da assistência social. Recentemente, alcançamos visibilidade nacional ao sermos agraciados com o Prêmio Chico Mendes de Transparência e Fiscalização Pública, conferido pela comissão de financiamento e controle da Câmara dos Deputados, graças ao nosso trabalho de formação sociopolítica de jovens e monitoramento comunitário de serviços e políticas públicas.

Vendo tudo isso, sentimos muita alegria e um grande senso de realização, mas ao mesmo tempo a sensação de que ainda há muito por fazer, e de que estamos apenas começando.

O Repórter – O CADI é um projeto bem-sucedido que vem crescendo, atendendo cada vez mais pessoas e alcançando cada vez mais voluntários, em diversos estados brasileiros. Aonde mais vocês esperam chegar?

 Maurício Cunha – Nosso alvo agora é criar e sistematizar novas tecnologias sociais para o desenvolvimento, replicando-as para nossas unidades e parceiros. Outro sonho que está prestes a se concretizar é a internacionalização do trabalho, com a abertura de projetos sociais do CADI em outros países. Já estamos na fase inicial de estudos para abertura de duas iniciativas sociais permanentes com voluntários brasileiros: uma em Bangladesh e outra na Ásia Central.

Maurício Cunha, fundador do CADI. (Foto: André Abrahão)

Mauricio Cunha é engenheiro agrônomo, administrador de empresas e professor universitário, com especialização em gestão de sistemas e serviços de saúde, e mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná. Atuou em gestão pública como secretário municipal de saúde, ação social e governo em Fazenda Rio Grande e Campo Largo (PR). É coach de empreendedores sociais, e co-autor de dois livros: “O Reino entre nós – transformação de comunidades pelo evangelho integral” e “Cosmovisão Cristã e Transformação”, ambos pela editora Ultimato. Foi Diretor Nacional de Programas da Visão Mundial para o Brasil, sendo responsável pela gestão de projetos estratégicos (BID, USAID, União Europeia, SEBRAE) e de programas com um alcance de 2,2 milhões de beneficiários. É Conselheiro Nacional de Assistência Social, representando o CADI.

 

 

 

 

oreporter

Related post