Saúde de Campo Magro pede socorro
Da redação
Diversas postagens em forma de denúncia e desabafo podem ser encontradas nas redes sociais no que se refere à situação da Saúde de Campo Magro. Nesta semana, a redação do Jornal O Repórter ouviu diversos relatos, que incluem a morte de uma idosa em tratamento de câncer e a falta de atendimento digno a outro idoso diabético na cidade, além da demora por atendimento.
Dona Marlene
Falecida no último dia 22 de abril, dona Marlene era paciente oncológica e dermatológica do Hospital Evangélico. Segundo a filha, Daniele de Oliveira, tudo começou quando a mãe sentiu falta de ar dia 20 de abril, às 6h. A filha ligou para pedir por um SAMU na cidade, na intenção de que a mãe fosse encaminhada ao Evangélico, onde é atendida. Depois de explicar a situação, Daniele diz que foi informada que dona Marlene só poderia ser levada ao Hospital da cidade.
Já no Hospital, ela teria recebido o atendimento e logo sido encaminhada para a sala de observação, onde chorava de dor. “Ela ficou a noite inteira gritando de dor e minha mãe era uma pessoa que não chorava por dor. Eu pedi ajuda para as enfermeiras, elas falaram que era frescura, que pessoa idosa sempre reclama mesmo”, lembra a filha.
Na sequência, Daniele informou ao médico plantonista, por volta das 5h da manhã do dia seguinte, que a mãe estava com dor no peito e falta de ar, mas ouviu do profissional que ele encerraria seu plantão às 5h30 e ela deveria, então, esperar pelo próximo médico.
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Transferida às pressas para a sala de emergência, sem nem mesmo um lençol na cama, dona Marlene, diabética, estava com a glicose em 34 e a saturação em 64. A senhora seria transferida para o Hospital do Rocio e, para isso, teve de ser entubada. “Foi a última vez que vi minha mãe com vida”, lamenta Daniele.
Depois do Rocio, dona Marlene foi encaminhada à UTI do Santa Casa. Segundo a filha, foi 1h25 para estabilizar o quadro e conseguir colocar a idosa na ambulância e mais 2h para estabilizar ao retirá-la de dentro do veículo. Por volta de 1h28 da manhã do dia 22, ela acabou falecendo.
“Eu sei que não é culpa minha, mas eu cheguei a me culpar por levar ela no 24h aqui de Campo Magro. Eu não quero ficar mais calada. Eu quero que todo mundo saiba o que aconteceu com a minha mãe, pra não acontecer com a mãe de outra pessoa. A pior dor: minha mãe saiu de casa andando, e eu ver minha mãe num caixão e não voltar mais”, desabafa.
Além do descaso com a mãe, Daniele também espera há seis meses por um atendimento psicológico. Diante do luto, ela acabou procurando um médico particular para conseguir uma prescrição de remédios psicológicos e para dormir.
Seu João Benedito
Depois de ter o dedo da mão e a perna amputada, o seu João Benedito Jacinto, 70 anos, paciente com diabetes de Campo Magro, foi internado na UPA da cidade, onde sua esposa, dona Bernardina Liça, de 66 anos, viu moscas sentarem na ferida aberta de sua perna, sem que nenhum profissional da unidade fizesse algo a respeito.
“Tinha muita mosca lá, eu pedi um lençol e uma das enfermeiras foi buscar e me deu porque ele amputou a perna e as moscas estavam sentadas. E se sentasse uma, podia dar uma varejeira. E eu preocupada, cobri com um lençol fininho. Daí, a enfermeira disse que por eu estar cobrindo, que ele estava ficando mal”, relata dona Bernardina, chorando ao lembrar do caso.
Ela ainda diz que o marido convulsionava e, além de dizer que era normal e que era para deixar convulsionar, uma das enfermeiras ainda discutiu com o paciente e a esposa, porque o medidor de glicose caiu do dedo de seu Benedito durante a convulsão. Além do marido, dona Bernardina também tem problemas com o atendimento, já que espera há três anos para realizar uma endoscopia. A idosa relata sentir dor no estômago com tudo o que come.
Pablo Cesar, que é genro do casal, conta que o idoso, que também é cego devido à diabetes, foi entubado na quarta (8). O dedo foi amputado no Hospital São Roque, de Piraquara, que fica a 70 km de Campo Magro e para onde o idoso tinha que ir a cada dois dias, após transferência da UBS de Campo Magro.
Dois dias depois de amputar a perna também no Hospital do Rocio, já em casa, no domingo (21), seu Benedito desmaiou em casa, com a glicemia baixa. “Acionamos o SAMU de Campo Magro, fizeram um trabalho excelente. Conseguiram estabilizar. Ele chegou na UPA com a diabetes em 230-250. A enfermeira deixou baixar de novo, não cuidou. Ele começou a convulsionar e a enfermeira chegou e falou para deixar convulsionar, que era normal”, lembra o genro.
Quando a glicemia no paciente estava em 3 (caso gravíssimo), a UPA da cidade resolveu transferir o idoso para o Hospital do Rocio, segundo Pablo, foi o SAMU quem conseguiu estabilizar a glicemia do sogro. Agora, ele segue entubado, com água no pulmão e pneumonia para o genro, a demora no atendimento e a negligência pioraram o quadro de seu Benedito.
Depois do caos, Pablo chegou a publicar em suas redes sociais sobre o ocorrido e diz que recebeu ameaças e reclamações por parte de funcionários da UPA.
A nossa reportagem procurou a secretaria de Saúde do município, que não deu respostas, porque estariam em Audiência Pública no momento.
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“Falta tudo, menos ameaça”, diz a população
Solange do Carmo Moladowiski acusa o prefeito de censura. “Recebi ameaças porque eu chamei um canal de TV sobre o IPTU cobrado 100%. Chamei a vizinhança, fui à Câmara cobrar os vereadores. Tive voz no plenário da Câmara. A população foi em peso e hoje está toda revoltada com isso. Isso foi na terça. Na quarta, fui ameaçada por funcionários”, conta a moradora. Segundo ela, os funcionários da Prefeitura são obrigados a defender a gestão.
Solange conta que um canal de TV chegou a gravar uma matéria na cidade, com os moradores, mas a reportagem não teria ido ao ar, após os repórteres conversarem com o prefeito em seu gabinete.
Ainda segundo a moradora, que levou sua filha à Unidade de Saúde, a pequena havia recebido um diagnóstico errado por lá. Depois de pagar por uma consulta, Solange retornou ao Posto pedindo ajuda com os medicamentos indicados, e ouviu que os mesmos não estariam disponíveis.
Já a moradora Bethy Frank diz que faltam lençóis na UPA do município, assim como faltaram máscaras na época da Pandemia Covid-19. Ela relata que já viu lençóis coloridos, provavelmente levados da casa de alguém, nas macas de atendimento. Em uma das vezes que precisou de atendimento, ela lembra que viu uma senhora de idade molhar a cama por incontinência urinária e, logo depois, a enfermeira passar um álcool, esticar o mesmo lençol e chamar o próximo paciente. Quando máscaras estavam em falta, ela conta que mandou confeccionar os equipamentos para levar na saúde.