Enfermeiras vão de barco até criança ilhada por alagamento para garantir tratamento contra hemofilia
O pequeno Theo completa dois anos e meio no mês de dezembro. No início deste ano, ele foi diagnosticado com hemofilia tipo A, distúrbio que afeta a coagulação do sangue. Por isso, desde maio de 2023 o menino precisa receber injeções constantes para reposição do fator deficiente no sangue.
Ele mora com os pais em uma comunidade rural de São Mateus do Sul, no sul do Paraná. Nos últimos dias, a família filhou ilhada devido aos alagamentos registrados na cidade após fortes chuvas. A solução então, foi buscar alternativas para que o tratamento não fosse interrompido – e a ajuda veio de barco, sobre as águas da inundação.
“Nós chamamos os bombeiros e falamos com a secretaria municipal de transportes, e eles trouxeram as enfermeiras até a nossa casa de barco pra poder fazer a aplicação”, conta o pai de Theo, Erasmo Macuco, sobreo apoio dos profissionais de saúde recebido na última semana. Segundo ele, atualmente o menino precisa da injeção duas vezes por semana.
Inicialmente não havia oferta na cidade, e ele e a esposa Keli levavam a criança até o Hemepar de Curitiba, que fica a mais de 150 km de São Mateus do Sul.
Depois, uma equipe de União da Vitória, cidade vizinha que fica a 85 km, foi treinada para poder atender o menino e há três meses é a responsável pelo tratamento.
Porém, desde outubro tanto São Mateus do Sul, quanto União da Vitória tiveram grandes enchentes. “Nós ficamos sem ter como sair de casa por uns quatro dias, moramos numa parte muito baixa. Então os bombeiros de São Mateus trouxeram as enfermeiras de União da Vitória até nós”, conta o pai, que destaca o agradecimento pela dedicação dos profissionais.
O que é hemofilia
O Ministério da Saúde explica que a hemofilia é um distúrbio genético e hereditário que afeta a coagulação do sangue. “Por exemplo: quando ferimos alguma parte do nosso corpo e começa a sangrar, as proteínas (elementos responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento de todos os tecidos do corpo) entram em ação para estancar o sangramento. Esse processo é chamado de coagulação. As pessoas portadoras de hemofilia não possuem essas proteínas e por isso sangram mais do que o normal”, detalha.
Os sangramentos podem tanto surgir após um trauma, ou sem nenhuma razão aparente. Os cortes na pele levam um tempo maior para parar de sangrar, e ainda há a preocupação em relação aos sangramentos internos, como nos músculos, que não são possíveis de ver.
“Existem vários fatores de coagulação no sangue, que agem em uma sequência determinada. No final dessa sequência é formado o coágulo e o sangramento é interrompido. Em uma pessoa com hemofilia, um desses fatores não funciona. Sendo assim, o coágulo não se forma e o sangramento continua”, aponta o Ministério.
O tratamento é feito com a reposição intra-venal (pela veia) do fator deficiente. Pessoas com hemofilia tipo A são deficientes de fator VIII (oito) e pessoas com hemofilia do tipo B são deficientes de fator IX (nove). “Os sangramentos são iguais nos dois tipos, porém a gravidade dos sangramentos depende da quantidade de fator presente no plasma (líquido que representa 55% do volume total do sangue)”, explica o órgão federal.