Dona de rede de óticas é presa pela segunda vez por coagir idosos e vender lentes falsas na Rua XV
Banda B
A dona de uma rede de óticas no Centro de Curitiba, um optometrista e mais seis pessoas foram presas, na manhã desta terça-feira (7), suspeitas de lesar consumidores, na maioria idosos, com a venda de óculos com lentes falsas. A empresária, de 62 anos, já havia sido detida pelo mesmo crime, em 2011. A investigação teve início há oito meses, após dezenas de consumidores registrarem boletim de ocorrência alegando que os óculos comprados não estavam corretos de acordo com a necessidade. Ao todo, 100 mil armações foram apreendidas durante a ação deflagrada em nove lojas destribuidas, grande parte na Rua XV de Novembro.
Segundo delegado Cássio Conceição, da Delegacia de Crimes Contra a Economia e Proteção ao Consumidor (Delcon), os funcionários da rede de óticas eram orientados a abordar as pessoas, especialmente idosos, para realização de um teste de visão e posterior compra dos óculos. “Em uma das lojas que foi feito mandado de busca tinha uma escrita assim: contratamos pessoas para abordagem na rua. Como as vítimas eram idosas, essas pessoas iam, abordavam, coagiam, levavam nesse optometrista e faziam uma consulta. Há muitos relatos de que eles passavam o cartão da vítima em valor acima do que os óculos valiam, o que configura estelionato mediante fraude”, contou.
Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Curitiba, Almirante Tamandaré, Fazenda Rio Grande, Colombo e São José dos Pinhais. Na casa da empresária, um apartamento de luxo no bairro Batel, foram apreendidos dois carros, uma BMW e uma Mercedes, um deles avaliado em mais de R$ 300 mil. “Eles atuavam há oito meses ali no calçadão da Rua XV. A maioria das lojas dela são nesse mesmo contexto, perto da mesma região. Acredito que com essa operação esse tipo de conduta vai cessar”, considerou o delegado,
A rede de óticas também é suspeita de vender produtos contrabandeados e de baixa qualidade. Quando os clientes iam reclamar, ficavam sem o produto e sem o dinheiro. “Teve situação, por exemplo, de um optometrista conversando com a esposa e falando assim: sabe aquele velhinho que não enxerga direito e precisa de um grau 9? Dá para fazer um grau 8? E ela falou: por que, não dá um 8,5? E ele respondeu: não, porque cada grau eu economizo no custo da lente. E venderam para ele uma lente de grau 8, dizendo que era grau 9”, afirmou o delegado.
Um técnico acompanhou a operação e constatou que as armações vendidas pela rede de óticas são irregulares. Amostras foram pegas de cada loja para análise. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Ótica, Rodolpho Ramazzini, citou que, além de lesar o consumidor, vender óculos falsos é um crime sanitário. “O setor ótico é um dos mais prejudicados pelo contrabando, pela falsificação e pela concorrência desleal no Brasil, só perdendo para os de cigarro e autopeças. Quando mandar para análise esses óculos vai perceber que eles não têm filtro UVA/UVB nas lentes, não têm luminescência e não atendem as especificidades. Os óculos, tanto de sol quanto de grau, não dizem respeito apenas ao crime contra o consumidor, mas também a saúde”, destacou.
Ramazzini também reforçou que os exames de visão não podem ser feitos dentro da ótica ou por um profissional vinculado ao estabelecimento. “Tem que acontecer em um consultório de um oftalmologista ou optometrista e eles não podem estar ligados a ótica”, explicou. A empresária está presa preventivamente. Ela e os outros investigados vão responder pelos crimes de estelionato, indução do consumidor a erro e crimes contra a saúde pública.
Defesa
Em nota à imprensa, os advogados que defendem a rede de óticas afirmam que a operação policial foi desproporcional aos supostos fatos narrados e que está requerendo judicialmente a liberdade dos investigados. “Ficará provada a inocência na sequência do processo”, conclui o comunicado assinado por Elias Mattar Assad, Louise Mattar Assad e Eliziane Cristina Maluf.